Tauá, município polo do Sertão dos Inhamuns, recebeu o Move Ceará nesta terça, 20. O projeto é da Assembleia Legislativa do Estado do Ceará (Alece) em parceria com a plataforma TrendsCE. O encontro aconteceu no auditório da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Tauá e recebeu representantes e lideranças regionais dos setores de agricultura familiar, agronegócio, construção civil, energias renováveis e comércio para tratar das demandas específicas da região.

A secretária do Conselho de Altos Estudos e Assuntos Estratégicos da Assembleia Legislativa do Ceará, Luiza Martins, percebeu a necessidade de uma maior articulação entre as universidades e os setores produtivos. “Dessa forma, por exemplo, com mais investimentos nas universidades da região, novas tecnologias podem ser desenvolvidas de forma a melhorar o trabalho do homem do campo”, disse.

De acordo com Luiza, o Move Ceará pode intermediar essa articulação entre os setores e ajudar a desenvolver um modelo de governança que leve à resolução de muitas dessas demandas.

Durante o encontro, participaram lideranças de Tauá, Quiterianópolis, Aiuaba, Arneiroz e Parambu participaram trazendo as demandas dos setores econômicos prioritários do Sertão dos Inhamuns. A escassez hídrica da região foi uma das principais dificuldades levantadas, além dos gargalos na distribuição da produção dos municípios e à necessidade de assistência técnica continuada aos produtores e criadores. 

Demandas do setor produtivo

O presidente da CDL de Tauá, Aílton Maciel, salientou a necessidade de estimular o empreendedorismo entre os produtores, desde que eles tenham ao seu dispor uma assistência técnica continuada que permita que realizem seu trabalho de forma autossustentável. “É costume os técnicos virem aqui nos municípios, resolverem algum problema e partirem. É preciso deixar um legado, capacitar os trabalhadores rurais, para que o fruto do seu trabalho tenha uma continuidade”, frisou.

Para Ailton, o poder público pode apoiar nessa questão com políticas públicas que podem ser cruciais para desenvolver o trabalho rural de modo que ele deixe de ser realizado apenas para subsistência. “Quando contemplo os problemas que enfrentamos aqui, vejo que estamos sempre dando voltas  em torno das mesmas questões. Com o suporte técnico necessário e um pensamento empreendedor direcionado, podemos parar de dar voltas e caminhar em linha reta”, refletiu.

O presidente da Associação dos Criadores de Caprinos e Ovinos dos Inhamuns (Ascoci), Paulo Alves Martins, também mencionou a necessidade de reforços na assistência técnica aos produtores e criadores do município. De acordo com ele, no último ano, grande parte da forragem cultivada para alimentação dos animais foi desperdiçada em razão de pragas de pulgões, deixando muitos criadores no prejuízo.

“Precisamos de acompanhamento continuado dos animais, saber que tipo de forragem deve ser cultivada para cada espécie, por exemplo, mas principalmente de uma assistência mais efetiva e que contemple as nossas necessidades”, disse.

Elisandra Lima, presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Tauá, relatou as dificuldades no escoamento e comercialização da produção, com a pandemia. “O prejuízo econômico foi muito grande, pois a principal fonte de escoamento são as feiras municipais e feiras da agricultura familiar. Os trabalhadores conseguiram fazer escoar uma parte muito pequena da produção a partir de vias alternativas, mas se faz necessário um esforço maior nessa retomada para suprir as perdas que sofremos”, disse. 

Energia

Os altos valores cobrados pelo fornecimento de energia elétrica também foram questionados pelos participantes do encontro. De acordo com Elisandra, paga-se mais de R$ 1.000 por poucos metros irrigados, um valor que superaria o lucro da produção. “Precisamos de políticas que viabilizem a produção de energia renovável para os trabalhadores rurais, assim como programas voltados para a participação política de mulheres e jovens, para desmistificar um pensamento que existe de que política não resolve nada”, pontuou.

Os próximos encontros do Move Ceará devem acontecer nas duas primeiras semanas de maio e cobrir as últimas cinco macrorregiões do Estado: Itapipoca (Litoral Leste – Vale do Curu), Guaraciaba do Norte (Serra da Ibiapaba), Sobral (Sertão de Sobral), Limoeiro do Norte (Vale do Jaguaribe) e Iguatu (Centro-Sul).